As chances de fazer um ace são de uma em 12,5 mil. Veja mais curiosidades sobre a jogada
por | Ricardo Fonseca
Como faz toda quarta-feira, Walter Gagliardi foi jogar no seu clube, o Damha, em São Carlos, neste dia 10 de novembro, e não estava tendo um bom dia. Estourou no primeiro buraco, fez bogey no 2 e duplo bogey no 3. No 4, um par 3 de 178 jardas, ele achou que poderia fazer o primeiro par do dia. De madeira 3, bateu em direção à bandeira, viu a bola cair antes do green e seguir rolando, até sair de sua visão.
Walter conta o que aconteceu então: “Caminhei até o green torcendo para a bola estar no green, para possivelmente fazer meu par. Quando não vi a bola, fiquei sem entender, e imaginei que ela poderia ter passado o green. Estava já indo procurar a bola, quando, passando perto do buraco, dei uma olhada e não acreditei quando vi minha bola lá no fundo do copo. Hole-in-one! Achei que nem nunca faria um! ”
Raridade
A jogada que Walter conseguiu depois de tantos anos de carreira é uma das mais raras do golfe. No Brasil não há estatísticas sobre isso, mas nos EUA, onde são jogadas 450 milhões de rodadas de golfe por ano, o National Hole-in-One Registry tem dados bastante precisos e mostram que Walter não exagerava quando pensava que nunca conseguiria seu ace.
As chances de um jogador de handicap médio para alto fazer um hole-in-one são de uma em 12,5 mil. Isso significa que se seu campo tem quatro buracos de pares 3 e você joga apenas uma vez por semana, pode levar 60 anos para fazer um hole-in-one. Ou 30 anos, se você joga todos os finais de semana, sábados e domingos.
E é isso que as estatísticas do National Hole-in-One Registry mostram: a média de anos jogando golfe antes de conseguir seu primeiro hole-in-one é de 24 anos! E a faixa etária onde mais isso acontece é na de 50 a 59 anos, com 25% dos aces feitos por ano, seguida da faixa de 40 a 49 anos, com 24% dos holes-in-one de cada ano nos EUA. No caso dos profissionais, as chances de ace são de uma em 3 mil e para os amadores de alto rendimento de uma em 5 mil.
Albatroz
Mas ao contrário do que se costuma dizer, o hole-in-one não é a jogada mais difícil do golfe. Embocar com a segunda num par 5, ou seja, fazer um albatroz (ou double eagle, como dizem alguns americanos) é muito mais raro. A cada ano são feitos 128 mil holes-in-one nos EUA, mas apenas algumas centenas de albatrozes, incluídos aí os holes-in-one em buracos de par 4.
O Double Eagle Club – sim, tem isso nos EUA também – calcula que as chances de fazer um albatroz são de uma em 6 milhões, ainda mais fácil do que acertar a mega-sena com um cartão de seis dezenas (uma em 50 milhões) ou de ser morto num ataque de tubarão (uma em 350 milhões). Mas é mais fácil ser atingido por um raio (uma em 555 mil) do que fazer um albatroz. Mas é mais difícil fazer dois holes-in-one na mesma rodada (uma em 60 milhões), do que acertar na mega-sena.
Condor
Você sabia que existe também o Condor, ou seja, jogar quatro abaixo do par do buraco, o que nada mais é do que fazer um hole-in-one num par 5. O site golf.co.uk encontrou seis casos confirmados de condores na história, quase todos “cortando” buracos de par 5 em dog-leg, o mais longo deles feito por Mike Crean no buraco 9 de 517 jardas do Green Valley Ranch Golf Club, em Denver, no Colorado, em 2002.
O caso mais recente, no entanto, nem nome tem, e seguido a escala de tamanho de aves – birdie, eagle, albatroz – poderia ser chamada de harpia, nome de um ser mitológico que teria rosto de mulher e seios, retratada em muitas esculturas “defendendo” o alto de catedrais. A harpia (Harpia harpyja), natural da América Central e do Sul, é tão grande, com envergadura de 2,5 metros, que muitos pensam ser uma pessoa fantasiada. No zoológico de São Paulo há algumas, levei meu neto recentemente para visitá-las.
Harpia
Bem, em 20 de dezembro de 2020, Kevin Pon conseguiu uma “harpia” ao embocar de primeiro no buraco 18 do Lake Chabot Golf Course, em Oakland, na Califórnia, um par 6 de 667 jardas (sim existem buracos de par 6 mundo afora). É o único caso de hole-in-one em par 6 que se conhece.